PARADIGMA ENEM – TEMA: LIBERDADE DE PENSAMENTO E CRENÇA
Contra cegueiras e
fogueiras
Igrejas cristãs das mais variadas denominações, sinagogas,
mesquitas, terreiros e centros espíritas: não são poucos os elementos que
compõem o mosaico da fé no Brasil. Desde 1889, com a proclamação da República e
a disseminação do conceito de Estado laico, não somente os adeptos dessas como
também de outras religiões têm assegurados seus direitos de consciência, crença
e culto. Entretanto, mesmo com um artigo da Constituição que legitime essas
liberdades, o preconceito e a intolerância religiosa ainda são uma realidade a
ser superada, principalmente no que concerne aos cultos afro-brasileiros e à
cultura negra de um modo geral.
Certamente esse fenômeno possui uma causa a ser compreendida
e combatida, a qual remonta a história do Brasil nos períodos da colônia e do
império, quando o Catolicismo era a religião oficial de todos os brasileiros.
Naquela época, escravos africanos e seus descendentes, a fim de praticar sua fé
ancestral, viram-se obrigados a dissimulá-la ou escondê-la, tornando-a símbolo
de resistência e de identidade. Nasciam, assim, religiões como o Candomblé,
cujos ritos rapidamente foram associados a cultos demoníacos. Desse modo, já se
fortaleciam as raízes de um preconceito que tem atravessado séculos.
Contudo, com a adoção dos ideais democráticos no país,
assentados sobre as ideias iluministas de Liberdade, Igualdade e Fraternidade,
uma nova realidade nos campos da consciência e da crença tornou-se possível.
Apesar disso, no entanto, o preconceito não foi erradicado; pelo contrário,
graças ao discurso de ódio de alguns religiosos, ações vestiram-se de ousadia e
violência. Saldo final da ignorância: templos vandalizados, pessoas agredidas –
tudo em nome da fé, como na Idade Média.
Portanto, seria leviano desconsiderar que ações devem ser
tomadas para coibir e precaver práticas de discriminação tanto ideológica
quanto religiosa. Leis para isso já existem, porém precisam ser aprimoradas e
levadas a efeito. Na área da educação, é preciso preparar professores para
ministrar aulas sobre cultura, religião e diversidade, de modo a atender um
currículo escolar que dialogue com as demandas reais da sociedade. Do ponto de
vista legal, deve haver campanhas que informem a população sobre seus direitos
e sobre como agir caso estes sejam violados. Com a devida precaução, a fé que
remove montanhas não será a mesma que, por conta de cegueira, lança também a
precipícios e fogueiras.
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