Os gêneros Conto e Crônica em muitos aspectos podem
assemelhar-se, e não é pretensão deste material, produzido com a intenção mais
didática possível, ater-se às tênues peculiaridades que os confundem. Por esse
motivo, serão expostas aqui as características mais acentuadas de cada um
deles, ignorando-se as exceções.
CONTO
O conto é um texto narrativo no qual há poucas personagens.
As ações destas são desencadeadas a partir de um único conflito, o que torna
seu enredo relativamente curto, se considerados outros gêneros da literatura,
como novelas e romances. Não há preocupação em se explicar a origem das
personagens nem de se contextualizar os elementos pertencentes à história além
do necessário para que o leitor entenda aquilo que marca esse gênero: as ações
do(s) protagonista(s) para solucionar o
conflito. Em alguns contos, utilizam-se descrições e o
desfecho “aberto”, ou seja, um fim em que é deixado ao leitor a possibilidade
de imaginar o desencadeamento da história além do principal que já foi contado
pelo narrador, geralmente em terceira pessoa. No conto, geralmente o tempo e o
espaço não variam do início ao fim. É comum também o uso de uma linguagem mais
literária, mas isso não é uma regra.
CRÔNICA
A crônica, da qual se trata aqui, é um gênero textual
surgido nos jornais com a finalidade de abordar temas cotidianos de maneira
mais descontraída, suavizando aquela característica mais sisuda do jornal
imposta pela seriedade como são e devem ser tratadas muitas notícias, artigos etc.
Portanto, embora não seja uma regra, é comum ao universo da crônica o humor, a
exploração de temas ligados ao cotidiano, a linguagem mais próxima da fala, o
uso de digressões e a marca da personalidade do cronista. Em um texto
frequentemente mais curto que o conto, não raramente, o cronista dá a entender
ser ele mesmo a personagem principal de suas crônicas, logo, utiliza-se do
narrador em primeira pessoa.
Alguns escritores desenvolvem um estilo muito peculiar que
permite ao leitor mais atento reconhecer suas crônicas só pelo tema e pela
forma como este é tratado. Em alguns textos desse gênero, estabelece-se uma
espécie de “conversa” com o leitor, num tom prosaico, o que confere à crônica,
muitas vezes, um aspecto de texto efêmero, datado.
COMO ESCREVER UM CONTO OU UMA CRÔNICA?
Primeiro sugere-se ao vestibulando que tome contato com
esses dois tipos de texto, procurando assimilar suas características pela
própria experiência de leitura. Há inúmeros contistas e cronistas que abordam
diferentes temáticas, possuindo os mais variados estilos. Não é difícil,
portanto, encontrar ao menos um com o qual seja possível se identificar. Há
crônicas publicadas semanalmente em jornais e revistas, bem como outras
reunidas em livros. É necessário cuidado, contudo, com textos divulgados na
internet, pois nem sempre são o que pretendem ser.
Após esse contato mais ostensivo com esses gêneros textuais,
é interessante comparar essa experiência de leitura com a teoria, buscando
identificar as técnicas narrativas apresentadas na unidade XXIV e outras que se
puder apreender.
Então, é praticar!
Leia crônica “O homem das palavras”, de Affonso de Romano
Sant’Anna. Durante sua leitura, procure observar as características elencadas
anteriormente.
O HOMEM DAS PALAVRAS
De Aurélio Buarque de Holanda, que nos deixou esta semana,
guardo algumas lembranças. Todas alegres.
Uma vez, por exemplo, estávamos num congresso de escritores
em Brasília. Assentados no auditório ouvíamos as doutas palavras que eram ditas
no palco onde alguém proclamava as virtudes de um texto literário. A rigor, o
texto em questão era a Canção do Exílio, de Gonçalves Dias, que até dez anos
atrás todos os brasileiros sabiam de cor, não exatamente por causa da ditadura
mais recente, mas porque era texto que aparecia em todas as antologias
escolares.
Quem tem mais de trinta anos e estudou português e não a
famigerada comunicação e expressão se lembra dos primeiros versos:
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá,
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Pois bem. Lá ia o expositor à mesa ressaltando que a grande
força deste poema estava no fato de que era um texto sem qualquer adjetivo.
Disse isto, conferindo tal observação ao grande Ayres da Matta Machado.
Mal se pronunciou esta frase, ouviu-se do fundo do auditório
um vozeirão contestando e reclamando:
- Perdão, mas esta ideia é minha.
A plateia voltou-se estupefata.
Era Mestre Aurélio, que levantando-se da poltrona e
encaminhando-se desassombradamente para o palco continuou falando:
- Sim, esta ideia é minha. Tive poucas, não sei se terei
outras e tenho que defendê-las.
Isto posto assumiu seu imprevisto lugar à cabeceira das
ideias e fez um brilhante aparte que virou uma conferência.
Outra estorinha sobre Aurélio já é clássica. Tendo que ir à
Academia, uniformizado com espada e chapéu, ficou ali na Glória aguardando
táxi, até que um parou. O motorista fascinado com a sua indumentária, olhando
pelo retrovisor, de repente indagou:
- Ainda que mal pergunte: sois algum reis?
A construção da frase era estranha, mas o motorista estava
jogando até com a possibilidade de "folia-de-reis" tendo em vista a
semelhança entre a fantasia dos acadêmicos e a do folclore.
Aurélio explicou que não, falou da Academia. O chofer não
entendeu muito bem. Mas quando Aurélio lhe pediu para se apressar, porque
estava atrasado, o outro atalhou confiante:
- Pode deixar, doutor, que do jeito que o senhor está
vestido, nada começa antes do senhor chegar.
(SANT'ANNA, Affonso Romano de. Porta de colégio e outras
crônicas. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1997. p. 53-56. Coleção Para Gostar de Ler.
16 Vol.)
PROPOSTAS DE VESTIBULARES
1. (UFG – Adaptado)
TEMA
A interferência do universo virtual na construção das
relações sociais
COLETÂNEA
1. [...] a realidade não só pode ser estimulada, mas também
melhorada. Por que simulá-la se não fosse assim? Isso significa que simular a
realidade não é apenas uma questão de replicar sua estrutura básica, mas também
de fazer quaisquer arranjos necessários para sintonizá-la aos nossos desejos.
O que é preferível, o mundo real ou o mundo virtual
melhorado? Que pílula você tomaria - a azul ou a vermelha? Diante dos avanços
tecnológicos apropriados, bem como de um programador competente e benevolente,
o mundo virtual parecerá tipicamente mais atraente do que o real. Muito mais.
Essa questão é muito bem ilustrada na cena em que Cypher abandona o grupo e vai
trabalhar com o ilimitável agente Smith. Saboreando um suculento bife e um bom
copo de vinho tinto, ele diz: "Eu sei que este bife não existe. Eu sei que
quando o coloco na boca a Matriz diz ao meu cérebro que o bife é suculento e
delicioso. Depois de nove anos, sabe o que percebi? A ignorância é a
felicidade". A Matriz tem bifes deliciosos; o mundo humano real tem comida
insípida e sem graça. A Matriz tem fantásticas boates; o mundo real não tem
nenhuma. Mas a questão é que a Matriz é um paraíso de prazeres sensuais,
comparado ao mundo real. E Cypher é um hedonista completo - o tipo que vai
atrás do prazer e não está disposto a tolerar sonhos nunca realizados e outras
baboseiras idealistas. Assim parece que o mundo virtual só é preferível para o
hedonista superficial que é indiferente ao pecado da auto-enganação, enquanto o
mundo real é preferível para qualquer pessoa que ligue mais para coisas
importantes como verdade, liberdade, autonomia e autenticidade.
IRWIN, W. Matrix. Bem-vindo ao deserto do real. São Paulo:
Madras, 2003. p. 254. [Adaptado].
2. No começo fiquei assustado. Mas talvez não seja
especialmente horrível a ideia que li na "Folha" deste domingo, sobre
a mais nova profissão do mundo. Trata-se do "personal amigo", e o
nome, por si só, já é um poema. Amigos, por definição, sempre serão pessoais; o
"personal amigo" inverte o sentido da expressão. Você paga uma taxa -
que vai de R$ 50 a R$ 300, imagino que de acordo com a qualidade do
profissional - e fica com uma pessoa para conversar, ir com você ao shopping ou
tomar uma água de coco durante sua caminhada. Seria fácil pôr as mãos na cabeça
e ver nessa novidade mais um sintoma da extrema mercantilização da vida
cotidiana dentro dos quadros do capitalismo avançado. Creio que não se trata
disso. Ninguém confundirá "personal amigo" com um amigo de verdade.
Namoro, amizade, relacionamento? Acho bom que a extrema variação das emoções
humanas não fique limitada a duas ou três palavras. Mandaram-me a notícia de
que um site de livros eletrônicos entrega pelo correio uma fita adesiva para
grudar no computador. A fita tem cheiro de livro real. Eis aí, quem sabe, o
segredo do "personal-qualquer coisa". Ficamos muito tempo navegando
no mundo virtual. Há o medo e a necessidade de entrar em contato físico com a
realidade. Contrata-se um "personal amigo": pode ser um amigo falso,
mas é uma pessoa real. A solidão pode ser driblada nas conversas pela internet.
Mas não é apenas distração e conversa o que se procura: há, como nos adesivos
com cheiro de livro verdadeiro, necessidade de coisa mais profunda, quem sabe
até se religiosa; penso em termos como presença, calor, vida e comunhão.
COELHO, Marcelo. "Do virtual ao personal". Folha
de S. Paulo, São Paulo, 29 ago. 2007, p. E9. [Adaptado].
3. Minha segunda vida
O trabalho de parto durou mais de uma hora. Foi o tempo que
passei na burocracia do site www.secondlife.com, no qual cadastrei o meu
e-mail, alguns dados pessoais e escolhi o tipo de conta (são duas: a básica,
grátis, e a premium, que prevê mensalidade de US$ 9 e dá direito a uma mesada
em linden dólares, a moeda local). Escolhi um nome e sobrenome para o meu
avatar - o personagem que me representa dentro da tela - e gravei um software
em meu computador. A partir do próximo parágrafo, o avatar é quem escreve. O
estilo dele é meio rebuscado, como o dos escritores de viagem de antigamente. A
seu modo, relata uma viagem a um mundo virtual, com seus códigos próprios,
alguns tão estranhos quanto os da Lilliput, do escritor irlandês Jonathan
Swift. No barulho difuso, no espetáculo de cores e formas estranhas, na luz que
aparece de súbito - tudo remete a um nascimento. Não houve choro, mas alguns
segundos de silêncio, como se a respiração não viesse fácil. Veio, afinal.
Estou na Orientation Island, a maternidade do Second Life. Como eu, dezenas de
pessoas se materializam neste lugar a cada instante. Estão nascendo de novo.
Escolheram um sexo, um nome e um sobrenome. Aqui são todos parecidos. Como os
bebês. Começam a andar e tropeçam. Depois descobrem a fala e mexem no que está
ao redor. Então, aprendem a voar. O que torna a segunda vida interessante não é
visitar lugares. Para ser feliz em Second Life, é preciso ter respeito e poder.
Poder e respeito. Todos querem ser a próxima Anshe Chung, a avatar de origem
chinesa que ganhou o primeiro milhão de dólares reais vendendo terrenos
irreais.
ÉPOCA, São Paulo, n. 461, 19 mar. 2007, p. 188-193.
[Adaptado].
4. O que se entende por consciência? A capacidade humana
para conhecer, para saber o que sabe que conhece. A consciência é um
conhecimento (das coisas e de si) e um conhecimento do conhecimento (reflexão).
Do ponto de vista psicológico, a consciência é o sentimento de nossa própria
identidade: é o "eu", um fluxo temporal de estados corporais e
mentais, que retém o passado na memória, percebe o presente pela atenção e
espera o futuro pela imaginação e pelo pensamento. O "eu" é o centro
ou a unidade de todos esses estados. Do ponto de vista ético e moral, a
consciência é a espontaneidade livre e racional, para escolher, deliberar e
agir conforme à liberdade, aos direitos alheios e ao dever. É a
"pessoa" dotada de vontade livre e de responsabilidade. Do ponto de
vista político, a consciência é o "cidadão", isto é, tanto o
indivíduo situado no tecido das relações sociais, como portador de direitos e
deveres, relacionando-se com a esfera pública do poder e das leis, quanto o
membro de uma classe social, definido por sua situação e posição nessa classe,
portador e defensor de interesses específicos de seu grupo. A consciência moral
(a pessoa) e a consciência política (o cidadão) formam-se pelas relações entre
as vivências do "eu" e os valores e as instituições de sua sociedade
ou de sua cultura. O EU é uma vivência e uma experiência que se realiza por
comportamentos; a "pessoa" e o "cidadão" são a consciência
como agente (moral e político).
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática,
1999. p. 117-118.
5. No mundo da internet, nem tudo é livre como se imagina.
Apesar do popularíssimo YouTube - onde todos podem colocar o vídeo que quiserem
- e das comunidades MySpace e Facebook, lotadas de gente de qualquer credo,
raça, preferência sexual e status social, a pedida hoje é ser aceito em clubes
on-lines exclusivos. Pedida entre os bem-nascidos, diga-se. No dia 10 de
outubro, passa a funcionar o Diamond Lounge, um lugar reservado a quem tem
dinheiro, fama e beleza. Difícil? Sim, difícil mesmo. Para entrar no clube, não
é necessário que o candidato a membro seja milionário - Ufa! - mas, quem não
tiver um mínimo de sofisticação ou glamour não deve bater à porta. Os novos
integrantes são indicados por alguns dos figurões inclusos em uma seleta lista
de 1.500 convidados ou têm de submeter seus "currículos" à aprovação
de um comitê. O Diamond Lounge é uma espécie de Orkut dos Vips, mas também
funcionará off-line. Serão oferecidas festas e eventos de negócios para seus
requintados associados.
ISTOÉ, São Paulo, n. 1976, 12 set. 2007, p. 63. [Adaptado].
6. Eu sou uma hacker! Estudo de manhã, passo a tarde inteira
na faculdade e chego em casa por volta das 8 horas da noite, esgotada, querendo
cama e travesseiro. Ainda dou uma morgadinha antes da mutação. No silêncio da
madrugada quando toda minha família está capotada, eu me transformo numa pirata
da internet. Ao meu lado uma caneca de café forte e amargo não dá chance para o
sono. O único barulho que se ouve é o do teclado. Às vezes penso por que faço
isso. Poderia dormir mais tempo, evitar as olheiras, levar uma vida mais
saudável. Mas esse "mea-culpa" termina assim que ligo a máquina. A
trama, a estratégia, a organização, a execução. É tudo muito excitante. Sou do
bem. O hacker verdadeiro é do bem, uma pessoa curiosa. Eu me defino como uma
pichadora on-line - termo que a categoria rejeita com fúria. Mas num passado
recente, a adrenalina manchou minha ficha cadastral. Até já perdi a conta das
vezes que implorei perdão a Deus. Rezei à beça, juro! Na pele de um cracker, o
hacker do mal, cometi um roubo virtual, roubei um cartão de crédito. Sem pedir
licença, entrei no computador de um cara, fucei a vida dele e, por fim,
surrupiei o número de seu cartão para comprar uma coleção de CDs de música
clássica, no valor de 400 reais. Crime virtual. Eu roubei um cartão de crédito.
Disponível em:
. Acesso em: 21 set.
2008. [Adaptado].
7. No ciberespaço o sujeito libera-se das coerções da
identidade, metamorfoseia-se, de forma provisória ou permanente, no que ele
quer, sem temer que o real o desminta. Sem rosto, não corre mais o risco, sem
poder ser visto, está livre de toda responsabilidade, tendo agora apenas uma
identidade volátil. Não há mais o risco de ser traído ou reconhecido por seu
corpo. A rede favorece uma pluralidade de "eus", o jogo libera-o de
qualquer responsabilidade e favorece a todo instante a possibilidade de
desaparecer. A identidade é uma sucessão de "eus" provisórios, um
disco rígido que contém uma série de arquivos que podem ser acessados ao sabor
das circunstâncias. É uma máscara formidável, isto é, um estímulo ao relaxamento
de toda civilidade. Toda responsabilidade desaparece. Um crime virtual não
deixa vestígios. O ciberespaço é instrumento da multiplicação de si, uma
prótese da existência.
NOVAES, A. O homem-máquina: a ciência manipula o corpo. São
Paulo: Companhia das Letras, 2003. p. 130.
8. Os ponteiros dos quatro mil relógios elétricos das quatro
mil salas do Centro de Bloomsbury marcavam duas horas e vinte e sete minutos.
"Esta colmeia industriosa", como gostava de chamar-lhe o diretor,
estava em pleno zumbido de trabalho. Todos esperavam ocupados, tudo se achava
em movimento ordenado. Sob os microscópios, com as longas caudas a agitar-se
furiosamente, os espermatozoides insinuavam-se de cabeça nos óvulos; e estes,
fecundados, dilatavam-se, segmentavam-se ou, se eram bokanoviskzados,
germinavam e fragmentavam-se em populações inteiras de embriões. Da sala de
Predestinação Social, as escadas rolantes desciam ruidosas ao subsolo e ali, na
penumbra vermelha, aquecendo-se em seu colchão de peritônio, saciados de
pseudo-sangue e de hormônios, os fetos cresciam, cresciam; ou, envenenados,
estiolavam-se num estado de Ípsilons. Com um pequeno zumbido, um ligeiro
matraquear, os porta-garrafas móveis percorriam, num movimento imperceptível,
as semanas e todas as idades recapituladas, até o lugar em que, na Sala de
Decantação, os bebês lançado recém-lançado-saídos dos bocais soltavam seu
primeiro vagido de horror e de espanto. [...] Acima deles, em dez andares
sucessivos de dormitórios, os meninos e meninas ainda bastante novos para precisarem
de uma sesta, estavam, embora não suspeitassem, tão ocupados quanto os outros,
pois inconscientemente ouviam lições hipnopédicas sobre higiene e
sociabilidade, sobre a consciência de classe e a vida amorosa dos pequeninos.
HUXLEY, Aldous. Admirável mundo novo. São Paulo: Globo,
2005. p. 179-180.
CONTO FANTÁSTICO
O conto
fantástico é um gênero que segue a mesma estrutura do gênero conto -
apresentação, complicação, clímax e desfecho. A narrativa do conto fantástico
se estrutura de forma a criar expectativa e suspense, suscitando no leitor um
estranhamento provocado pela oposição entre o natural e o sobrenatural,
mediante acontecimentos estranhos, bizarros e fora do comum.
Tendo em
vista essas explicações, escreva um conto fantástico no qual o protagonista
seja um usuário do Second Life (uma pessoa que assume uma outra identidade no
mundo virtual) e que resolve fazer uma viagem pelo espaço virtual. A história
que você vai criar deve apresentar o estranhamento da personagem (ou
personagens) nascendo diante de um novo mundo, que tem seus encantos e
problemas. A trama deve ser construída por meio de aventuras que girem em torno
da construção da nova identidade e da convivência com outros habitantes desse
universo. Conte como as relações sociais são estabelecidas nesse mundo virtual,
considerando-se os papéis assumidos pelas personagens. Elabore motivações
convincentes para a situação fantástica construída e para as ações das
personagens, evidenciando suas convicções, desejos e crenças.
2. (UFG- Adaptado)
Tema: Memória: constitutiva do homem e formadora da
identidade social
Coletânea
Uma memória coletiva se desenvolve a partir de laços de
convivência familiares, escolares, profissionais. [...] Que interesse terão
tais elementos para a geração atual? [...] Por muito que deva à memória
coletiva é o indivíduo que recorda. Ele é o memorizador e das camadas do
passado a que tem acesso pode reter objetos que são, para ele, e só para ele,
significativos dentro de um tesouro comum. [...] Se a memória da infância e dos
primeiros contatos com o mundo se aproxima, pela sua força e espontaneidade, da
pura evocação, a lembrança dos fatos públicos acusa, muitas vezes, um
pronunciado sabor de convenção. [...] Na memória política, os juízos de valor
intervêm com mais insistência. O sujeito não se contenta em narrar como
testemunha histórica "neutra". Ele quer também julgar, marcando bem o
lado em que estava naquela altura da História, e reafirmando sua posição ou
matizando-a.
A memória dos acontecimentos políticos suscita uma palavra
presa à situação concreta do sujeito. O primeiro passo para abordá-la, parece,
portanto, ser aquele que leve em conta a localização de classes e a profissão
de quem está lembrando para compreender melhor a formação do seu ponto de
vista. [...] Há um modo de viver os fatos da História, um modo de sofrê-los na
carne que os torna indeléveis e os mistura com o cotidiano, a tal ponto que já
não seria fácil distinguir a memória histórica da memória familiar e pessoal.
Bosi, E.
"Memória e sociedade: lembranças de velhos". São Paulo: Edusp, 1987,
p. 332-333, 371-385.
A campanha de salvamento de Abu Simbel, alto Egito, foi
fundamental para a consolidação do conceito de patrimônio mundial, difundindo
em todo o mundo a ideia de que a responsabilidade pela preservação dos grandes
monumentos - os tesouros do patrimônio mundial - não toca apenas aos países
onde eles se situam, mas sim a todos os povos da terra, sem exceção.
"PLANETA",
n0. 395. São Paulo, ago. 2005, p. 45. [Adaptado]
[...] Já faz tempo eu vi você na rua / Cabelo ao vento,
gente jovem reunida / Na parede da memória essa lembrança é o quadro que dói
mais / Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos /
Ainda somos os mesmos e vivemos / Como nossos pais [...]
BELCHIOR.
"Como nossos pais". Intérprete: REGINA, E. "O mito". São
Paulo: Universal Music, 1995. 1 CD. Faixa 3.
Baú de recordações. A professora aposentada Neuza Guerreiro
de Carvalho (foto) guarda as memórias de seus 75 anos de vida em três baús e em
dezenas de livros. Ali estão registros escritos, fotografias e objetos que
contam não só a história de sua existência mas também a dos familiares que a
antecederam e a sucederam e ainda a da cidade em que sempre viveu, São Paulo. A
lembrança mais remota que conserva? "Uma caixinha que era do meu
pai", diz ela, e, do fundo do baú que leva o nome "Memórias e
Histórias", saca a caixinha cuidadosamente embalada para que dure por
muitos anos. [...]
Gosto do passado. Década de 50. Numa casa pobre, do bairro
de Remédios, SP, crianças olham a chuva cair lá fora. Irene é uma delas. Do
fogão à lenha sobe o cheiro de alho frito. O aroma perfuma a tarde. O avô de
Irene faz miga, comida espanhola conhecida em Portugal como sopa de pão. A
tropa mirim se aquieta. [...] "Era aniversário do meu marido e eu estava
servindo uma receita russa quando me lembrei da miga", conta a
dona-de-casa Irene Cavallini, 61. Correu e incluiu a passagem no livro "No
vão da escada", que publicou independentemente após fazer o curso
"Resgatando e escrevendo suas memórias", do Colégio Santa Maria, SP.
[...] "Resgatar a própria história é um modo de se redescobrir e de
registrar quem você é", diz Maria Aldina Galfo, professora do curso.
"FOLHA
DE S. PAULO". São Paulo, 8 set. 2005, p. 8. Equilíbrio. [Adaptado].
Imagine se existisse uma pílula da memória. Apenas um
simples comprimido seria suficiente para não esquecermos nunca mais a data de
aniversário do avô ou todos os detalhes daquela viagem de verão. Pois essa
milagrosa invenção já está sendo desenvolvida por cientistas da Universidade da
Califórnia, que afirmaram à revista "New Scientist" que ela poderia
ser usada na recuperação de pessoas em estado de cansaço, no tratamento de
pacientes com Alzheimer e até mesmo para aumentar o desempenho de pessoas
saudáveis.
"FOLHA
DE S. PAULO". São Paulo, 8 set. 2005, p. 6. Equilíbrio.
E se pudéssemos tomar um remédio que nos ajudasse a
esquecer? Uma notícia divulgada no final de julho na revista científica
"Nature" revelou que um grupo de psiquiatras nos EUA acredita que
drogas do tipo bloqueadores beta, utilizadas largamente para tratar hipertensão,
agem "apagando memórias ruins", se administradas no momento certo.
[...] Conta o psiquiatra Frederico Graeff, da Faculdade de Medicina da USP de
Ribeirão Preto: "a droga não faz esquecer um trauma, o que pode fazer é
barrar um fluxo emocional excessivo, a pessoa não revive os sentimentos".
"O bloqueador beta inibe a ação da adrenalina e sua 'prima' no cérebro, a
noradrenalina. Se você tem uma experiência emocionalmente estimulante, você vai
liberar essas substâncias no corpo e no cérebro, e elas têm o papel de
determinar o quão fortemente as memórias serão lembradas. O bloqueador beta
barra a ação delas e enfraquece as memórias", detalha James Mc- Gaugh.
"GALILEU".
São Paulo, set. 2005, n0. 170, p. 37-38. [Adaptado].
Preservar a vida é o mais arraigado dos instintos. Na
evolução das espécies, a seleção natural cuidou de eliminar os incapazes de
defendê-la com unhas e dentes.
Os seres
humanos não constituem exceção, mas, pelo fato de sermos animais racionais,
aceitamos determinados limites para a duração da existência; mantê-la a
qualquer custo não nos parece sensato. A perda irreversível da memória
configura uma dessas situações. Incapazes de lembrar quem somos e de entender o
que se passa a nossa volta, de que vale a condição humana?
VARELLA, D.
A memória da velhice. "Folha de S. Paulo". São Paulo, 3 set. 2005, p.
E12.
Atualmente, é triste a constatação de que há pouca gente
sensível à manutenção de nossos monumentos, sensível à arquitetura produzida
por nossos antepassados nessa cidade. [...] Infelizmente, atualmente o descaso
com esse patrimônio vem se tornando prática comum: a regra é pô-lo abaixo. O
que torna tudo pior é que em seu lugar surgem invariavelmente construções
pioradas em todos os sentidos: estética, funcional ou economicamente. A situação
é mais dramática no Centro da cidade, região em que os edifícios têm maior
valor histórico e mesmo arquitetônico. Pois ali casas, sobrados e edifícios são
postos abaixo para dar lugar a construções provisórias, barracões, puxados ou
mesmo a meros estacionamentos.
UNES, W.
"Identidade art déco de Goiânia". São Paulo: Ateliê Editorial;
Goiânia: Editora da UFG, 2001, p. 20-21. [Adaptado].
Se o mundo do futuro se abre para a imaginação, mas não nos
pertence mais, o mundo do passado é aquele no qual, recorrendo a nossas
lembranças, podemos buscar refúgio dentro de nós mesmos, debruçar-nos sobre nós
mesmos e nele reconstruir nossa identidade. [...] O tempo da memória segue um
caminho inverso ao do tempo real: quanto mais vivas as lembranças que vêm à
tona de nossas recordações, mais remoto é o tempo em que os fatos ocorreram.
BOBBIO, N.
"O tempo da memória". Rio de Janeiro: Campus, 1997. Contracapa.
(Tudo é sombra de sombras, com certeza [...]
Vão-se as datas e as letras eruditas / na pedra e na alma,
sob etéreos ventos, / em lúcidas venturas e desditas.
E são todas as coisas uns momentos / de perdulária
fantasmagoria, / - jogo de fugas e aparecimentos).
Das grotas de ouro à extrema escadaria, / por asas de
memória e de saudade, / com o pó do chão meu sonho confundia.
MEIRELES,
C. "Romanceiro da Inconfidência". Rio de Janeiro: Nova Fronteira,
1999, p. 40.
CRÔNICA
A crônica pode apresentar tanto características de um
texto literário quanto de um texto jornalístico. Impressões a respeito de fatos
ou de situações do cotidiano são recriadas em um texto que objetiva divertir o
leitor e/ou trazer uma análise crítica. Nesse gênero, predominantemente
narrativo-expositivo, o narrador pode ser participante ou não da história.
Imagine que você tenha tomado uma pílula recém-lançada no mercado e isso gerou
consequências nas suas relações sociais (na família, no trabalho, na vida
afetiva etc), pois entre os efeitos da pílula, que age na memória, podem estar
a lembrança e/ou o esquecimento de fatos e pessoas interessantes. A partir
dessa situação, escreva uma crônica para ser publicada em um jornal de
circulação local, considerando que a perda ou a recuperação da memória pode
influenciar a construção de sua identidade.
2 comentários:
Uma dos meus tipos de textos favoritos são as crônicas. Elas representam, muitas vezes, a conduta da sociedade através do dia-a-dia. Gosto muito das crônicas do Ivan Angelo, apesar de ele ser bastante preconceituoso sobre a classe baixa, é muito interressante como ele denomina as pessoas ao seu redor, e como ele e subjetivo no que ele escreve.
Enfim, se o mundo fosse resumido em um texto, por favor, que seja em crônica.
Também gosto muito de crônicas e, apesar de já ter lido algumas do Ivan Ângelo, nunca percebi esse preconceito a que você se referiu - mas não duvido.
Nelas sempre há uma lente repleta de subjetividade apontada para algo do cotidiano que passa geralmente despercebido. Por isso, a crônica também está entre os tipos de texto que prefiro.
Evoé, crônica!
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