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11 de ago. de 2012

Pergunta de um anônimo


Anônimo disse...

Professor, qual é o lado certo dessa história:

*leia o colunista e depois os três comentários

http://www1.folha.uol.com.br/colunas/gilbertodimenstein/1135006-somos-refens.shtml

sexta-feira, 10 agosto, 2012.



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Caro Anônimo,

primeiramente fico muito feliz que alguém acredite que eu possa arbitrar a respeito de algum lado "certo" da história. Principalmente quando a "contenda" em questão é "briga" de cachorro grande: um articulista da Folha versus, possivelmente, professores universitários.
E nessa brincadeira vem você, mui amigo, me promovendo de professor não-universitário a juiz, logo eu, que pouco "articulo" e quase nada "professo"?
Desculpe-me, me abstenho, não quero julgar... porém vou fazer um esforço para levantar uma bola, a qual deixo para que outro chute, claro, se quiser... Para isso, entretanto, tenho na manga algo que advoga em favor do autor do texto: chama-se gênero textual. Vamos lá...
O que o Gilberto Dimenstein fez foi um curto artigo de opinião, um gênero textual que a gente vai estudar muito em breve (caso você seja meu aluno, claro). Respeitando as características de um artigo, ele o fez corretamente, abordando de forma pertinente o tema: atacou o senso comum (os professores devem receber melhor remuneração), fez uma provocação (a estabilidade dos funcionários públicos permite que muitos se acomodem de modo a não se comprometerem com seu próprio trabalho - como deveriam) e apresentou uma abordagem inesperada para o tema (aumenta-se o salário do servidor, aumentam-se os impostos).
Portanto, as questões levantadas por ele são dignas de reflexão e, em contrapartida, parecem um ataque aos professores, assim como um posicionamento que o alinharia a um discurso pró-governo, o que, de fato, não acontece. Porém, com uma leitura mais atenta, percebe-se que não se trata disso. Na verdade, é um texto feito para polemizar e provocar reflexões - como deve ser todo bom artigo.
Por outro lado, o direito do servidor público de ter reajustado seu salário, como é destacado no primeiro comentário, é correto e mais do que justo. Esse é um direito trabalhista, conquistado e que de modo algum pode ser ignorado ou criticado pelo governo ou pela sociedade.
Observe, porém, que a grande questão do artigo não é a legalidade da greve, pois Dimenstein não propõe argumentos contra os direitos dos professores. Ou seja, o que é escrito no comentário não vai de encontro nem ao encontro do que é afirmado no artigo, mas vai de encontro a uma “sensação” que o artigo provoca, o que é algo bem diferente. (A saber: a sensação a que me refiro é a de que Dimenstein seja contra o aumento para os professores – o que não é o caso).
Há também outro comentário que ataca o articulista ao apresentar a relação: boa remuneração - boa qualidade -, o que é uma simplificação completa da questão, pois a boa remuneração, oferecida sem condicões que orientem a conduta dos profissionais, não resulta em boa qualidade, pelo contrário. Basta notar aquilo que nós testemunhamos o tempo todo na política do país: candidatos a sálarios e mordomias que se fingem de candidatos a gestores públicos comprometidos com a responsabilidade que seus cargos sugerem – que, aliás, de “cândidos”, como sugere o nome, não têm nada.
Tanto os candidatos como qualquer servidor público, professor ou não, conhece muito bem a “fisiologia” do sistema, na qual alguns são profissionais sérios que puxam a carroça, enquanto outros são apenas pessoas acomodadas na estabilidade de seus cargos que vão no andor da carruagem “celebrando a vida”. Em um sistema no qual se valorizam os méritos, como propõe Dimenstein, os bons profissionais acabam sendo mais valorizados, inclusive financeiramente, como ocorre no setor privado, por exemplo.

Por esse motivo, a partir do título “Somos reféns”, podemos interpretar que, do ponto de vista do autor (com o qual concordo), a gestão pública ao tratar questões de salário, reduzindo-as simplesmente a uma perspectiva de esfera política, onera o cidadão com suas decisões. É um ônus que se reflete em dois sentidos: material – com o aumento dos impostos; e imaterial: com a qualidade pouco satisfatória dos serviços.
É por isso que, para encerrar a sessão, declaro que:

1- Dimenstein levou 10 no artigo, que fez o principal: motivou pessoas como você, eu e os comentaristas a refletirem sobre um assunto de maneira um pouco mais profunda do que simplesmente recomenda o senso comum.
2- Os comentaristas também tiraram uma boa nota (não 10), porque, ao exporem seus pontos de vista, permitiram que outros leitores, talvez pouco atentos à verdadeira provocação que faz o artigo, aceitassem, erroneamente, por interpretarem mal o artigo, a ideia de que os professores promovem uma greve injustificável.
3- Você também leva 10 por se sentir incomodado o bastante para procurar, ainda que em fonte obscura, alguma resposta para suas dúvidas.
4- Eu levo 10 também, por escrever isso num sábado de manhã.

Então se levanta uma voz ao fundo: “Mas professor, você ficou em cima do muro?”
Acho que suei bastante para subir nesse muro aqui e considero que é do alto dele que consigo enxergar um pouco melhor. Porém, só pra você vai o que penso:

Os professores universitários têm toda razão e direito de reivindicar o ajuste salarial, mas o governo, sobretudo no que diz respeito ao Ministério da Educação, deveria rever suas políticas em relação ao ensino superior, uma vez que todo salário pago a alguém é um investimento que deve ter retorno, nesse caso, sobretudo para a população. O bom gestor é aquele que sabe utilizar meios legais e justos para fazer seu investimento render o máximo possível (não só materialmente). O artigo, nesse sentido, é mais crítico ao gestor do que o contrário, e concordo inteiramente com ele, principalmente com a conclusão.

Abs!

Leo

P.s.: contudo, devemos destacar o seguinte: se o autor do artigo, em vez de escrever esse gênero textual, tivesse escrito uma dissertação sobre o tema, ele precisaria elencar alguns contra-argumentos para sua própria tese, algo que tornaria seu texto menos polêmico e provocativo, embora, ainda assim, fomentador de reflexões.

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