MODELO ESTILO ENEM – QUESTÕES DE GÊNERO
Revolução inacabada
A sensação de que não há mais nada a ser
conquistado no campo dos direitos da mulher seria confortadora, não fosse
preocupante e perigosa. Isso porque, se já contamos com uma “presidenta” e com
mulheres em cargos diferenciados no mercado de trabalho, não conseguimos
extirpar em definitivo do Brasil o preconceito e a violência de gênero, tampouco
garantimos condições trabalhistas compensatórias de modo a promover a igualdade
de direitos para ambos os sexos.
Nesse sentido, ainda está longe de ser
superado o que preconizou a filósofa Simone de Beauvoir em sua mais relevante
obra, “O Segundo Sexo”. Segundo ela, a subalternidade da mulher em relação ao
homem dá-se pelo fato de o sexo feminino não ser reconhecido socialmente em sua
individualidade, sendo culturalmente percebido a partir de um referencial
primeiro – que não a mulher -, ou seja, do sexo oposto. Esse fenômeno,
aparentemente inofensivo, desdobrou-se, no entanto, em situações simbólicas e
concretas que precisam urgentemente ser superadas.
Não bastasse a questão cultural, há
muitos que sustentam acertadamente que a Revolução Feminista está ainda
incompleta. Um exemplo clássico é a discrepância de salários entre pessoas de
sexos diferentes quando estas desempenham as mesmas funções. Nos grandes
centros urbanos como São Paulo, ser do sexo feminino tornou-se sinônimo de até
30% a menos no salário. Além disso, a ideia de dedicar-se à chamada “jornada
dupla”, de trabalhadora e de mãe, também é desestimulante, principalmente
quando não há divisão equânime de funções no lar.
Sendo assim, não é prudente fiar-se
unicamente na políticas públicas já existentes para essa questão. Se há
importantes conquistas como a Lei Maria da Penha, a sociedade civil organizada
precisa ainda mobilizar-se para temáticas como licença à maternidade e
paternidade, bem como justiça salarial. Quanto à cultura, esta transforma-se
com o estudo de questões de gênero no currículo escolar, com merchandising
social e com o questionamento de valores machistas que perduram no Brasil até
hoje. Quiçá as filhas das novas gerações olhem para nossa atualidade e a ela se
refiram como um “passado injusto e superado”.
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