MODELO ESTILO ENEM: O papel do humor em uma
democracia
Um bicho que
ri
O filósofo contemporâneo brasileiro
Mario Sergio Cortella, em suas aulas, já esclarece: o único ser na natureza
capaz de rir é o homem. Por esse motivo, ainda segundo ele, a Filosofia
ocupa-se também de procurar entender o riso e o humor. Aristóteles mesmo,
embora preferisse a Tragédia, estudou minuciosamente a Comédia e os autores de
seu tempo, a fim de definir-lhes a função social e o melhor modo de provocar o
riso. Naquela época, esse gênero debruçava-se sobre a crítica aos costumes, ao
egoísmo e à hipocrisia - alvos velhos, mas sempre atuais.
A sátira, contudo, incomoda, pois sua
natureza é assim. Quando domada e resultado da autocensura de que quem a
produz, perde a graça, nasce já sem tempero e fadada ao fracasso. Isso porque,
para provocar as forças misteriosas que animam o ser humano, a comédia surge da
rebeldia, da inconformação e do desafio ao senso comum. Sua função é
transformadora, porque age no íntimo do homem. Isso no que se refere ao verdadeiro humor,
não ao pastelão bárbaro como o de certos programas televisivos, a exemplo do
“Pânico”, da TV Bandeirantes.
Nesse caso, quando a sociedade anima-se
com o embaraço alheio e gratuito, provocado por um sadismo que se amiga com o
riso débil ou com a gargalhada estéril, revela-se um quadro moral coletivo
problemático, fruto de um humor decadente. Para este, a Democracia, possui suas
leis e instrumentos, destinados a coibir o assédio moral. Porém, em
contrapartida, a anedota inteligente e suas variantes, em vez de revelar o pior
lado do ser humano, costuma trazer à luz da observação, aquilo que precisa ser
conhecido e reconhecido pela coletividade, principalmente no que diz
respeito a ideologias, costumes e
práticas políticas.
Nesse sentido, ao concentrar-se sobre
temas relevantes para a sociedade, a sátira ajuda a refletir e a estabelecer
campos de discussão na Ágora simbólica que deve ser toda democracia Para que
seja assim, entretanto, é importante que se invista na formação política do
cidadão, que o estudo da Constituição desça da cátedra às escolas, que os
preconceitos sejam discutidos e estudados em suas causas . Desse modo, quem sabe,
estejamos prontos para compreender desde um Voltaire a um Millôr Fernandes, bem
como todos aqueles cuja arma do humor está sempre apontada para excelentes
alvos.
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